Os dados da caixa-preta do avião ATR-72, da Voepass, que caiu na 6ª feira (9), foram extraídos com sucesso neste domingo (11.ago), incluindo os áudios com as conversas na cabine de comando nos minutos finais do voo 2283. Mas as autoridades responsáveis pelas investigações não querem divulgar informações ao público antes de 30 dias. O prazo foi determinado pelo Cenipa (Centro de Investigações e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão da FAB (Força Aérea Brasileira) responsável por investigar acidentes de aviões, para apresentação do relatório preliminar do caso.
O brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do Cenipa, disse que o
prazo é necessário por causa da grande quantidade de dados a serem analisados.
Questionado sobre a possibilidade de divulgação só dos áudios finais, para
esclarecer à sociedade e aos familiares o que se deu nos instantes antes da
queda, Moreno disse que isso poderia quebrar o sigilo pessoal dos pilotos,
“gerando constrangimentos potenciais que possam progredir em processo
judiciais“. O brigadeiro não explicou como isso poderia prejudicar as investigações.
O chefe do Cenipa também afirmou que a divulgação “pode
causar sofrimento adicional aos familiares”. Ele não explicou por que não
poderia divulgar só conversas técnicas sobre o voo, eliminando qualquer
conteúdo diferente disso que pudesse desagradar parentes das vítimas. Para o
brigadeiro, entretanto, haveria “impacto emocional” e os áudios poderiam “ser
muito angustiantes, especialmente para as famílias das vítimas”.
Moreno disse ainda que as gravações poderiam “gerar
especulações”. Mas não disse quais seriam nem por que atrapalhariam os
responsáveis por analisar as causas do acidente.
O brigadeiro também explicou que “as informações contidas
nos gravadores [as conversas entre os pilotos] são usadas para melhorar a
segurança do voo”. E completou: “A divulgação pública pode comprometer a
implementação de mudanças necessárias para a correção de condições inseguras”.
Não fica claro na argumentação, entretanto, em que medida divulgar o que
falaram os pilotos poderia impedir as autoridades de adotar medidas para
melhorar a segurança de voos.
O chefe do Cenipa disse que a decisão de manter sigilo
obedece ao Código Brasileiro de Aeronáutica e no anexo 13 da Convenção sobre a
Aviação Civil Internacional, promulgada por decreto no Brasil 1946. O anexo 13
afirma isto: “O único objetivo da investigação de acidentes ou incidentes será
a prevenção de futuros acidentes e incidentes. O objetivo dessa atividade não é
determinar a culpa ou responsabilidade”.
Apesar das explicações de Moreno, é comum que gravações de
cabine de comando venham a público pouco depois de acidentes aéreos. Isso
ocorre até para dar alguma satisfação e conforto aos familiares das vítimas,
que demandam alguma informação mais concreta sobre o acidente. Isso tem se dado
antes da conclusão das investigações sem que haja críticas de prejuízo ao que
está sendo apurado. Tampouco há queixas de que tenham infringido a intimidade
dos envolvidos.
VOO 3054 DA TAM
Em 17 de julho de 2007 houve o acidente do Airbus-A320 que
fazia o voo 3054, da Tam. O avião não conseguiu frear ao pousar em São Paulo.
Morreram os 187 a bordo. O conteúdo principal dos áudios foi revelado à mídia
jornalística antes do final de julho.
Isso foi fundamental para que ficasse claro o que tinha
acontecido: o manete de controle do motor direito foi mantido numa posição de
aceleração. Deveria ter ficado em ponto morto, como o outro manete.
O conteúdo total dos áudios foi copiado em CD e enviado à
Câmara dos Deputados menos de 1 mês depois do acidente: em 31 de julho de 2007.
Em 9 de agosto de 2007, os deputados da CPI da Crise Aérea
ouviram os diálogos. Os dados foram entregues pela Aeronáutica à Câmara sob
sigilo. O conteúdo dos áudios acabou sendo divulgado para a mídia, que revelou
o conteúdo em 1º de agosto de 2007. Não houve críticas de prejuízo às
investigações. As informações tinham relevância jornalística e interesse
público.
Fonte: Poder 360
Foto: Divulgação/FAB