O Cimi considera as mortes de crianças de 0 a 5 anos, por
suicídio e por desassistência à saúde como diretamente associadas à negligência
do Estado. Todas cresceram de 2022 a 2023. O aumento mais expressivo foi da
mortalidade infantil. O número foi recorde: 1.040 casos. É o maior da série
histórica, com dados desde 2003, e 25% superior às 835 de 2022.
Até então, o maior registro havia sido de 965 crianças
mortas em 2019, 1º ano do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nos
últimos 20 anos, 9.596 crianças indígenas morreram antes dos 5 anos.
O relatório considera que pelo menos 65% dos casos (670)
eram evitáveis.
As doenças que mais causaram mortes infantis foram:
gripe e pneumonia – 141 casos;
diarreia, gastroenterite e doenças infecciosas intestinais – 88 casos;
desnutrição – 26 casos; e
doenças causadas por protozoários – 26 casos.
O suicídio de indígenas também foi recorde em 2023.
Foram 65 casos a mais em comparação a 2022. No relatório, o
Cimi alerta para a alta incidência entre os indígenas de até 19 anos –foram 59
casos (34% do total).
Pelo menos 111 indígenas morreram diretamente pela falta de
assistência à saúde em 2023. Foi um salto de mais de 40% em relação aos 76
casos no ano anterior. Metade dos mortos tinha mais de 60 anos.
O Cimi considera na categoria mortes diretamente causadas
pelo “abandono da política de saúde indígena”. Inclui aspectos como:
falta de água potável;
escassez de remédios;
desassistência médica.
O relatório reúne também dados sobre as violências aos
indígenas brasileiros.
Além das mortes infantis, por suicídio e desassistência à
saúde, há outras 4 categorias consideradas como violências por omissão do poder
público. São elas:
desassistência geral;
desassistência na área de educação;
desassistência na área de saúde;
disseminação de bebida alcoólica e outras drogas.
Ao todo, foram registrados 344 casos mais graves de
problemas causados pelo desamparo das autoridades administrativas. Segundo o
Cimi, parte dos registros se relaciona à falta de infraestrutura e o
aprofundamento da vulnerabilidade causada por efeitos das mudanças climáticas.
Os dados foram adquiridos pelo conselho por meio da Sesai
(Secretaria de Saúde Indígena). Em anos anteriores, o Cimi buscou registros dos
DSEIs (Distritos Sanitários Especiais Indígenas).
Na esteira do aumento das mortes de indígenas, em 2023,
também foi recorde o número de mortos da etnia yanomami por causas gerais.
Foram 363 casos, ante 343 em 2022. Os números, também da Sesai, divulgados em
fevereiro, não justificam as causas das mortes.
Até o início do ano, o governo divulgava informações
atualizadas sobre os números da saúde dos yanomamis no Ministério da Saúde. Os
dados não são mais informados. O ministério não respondeu se o boletim com as
informações se manterá suspenso.
Sobre o aumento dos casos, disse que realiza, junto ao IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) um “inquérito demográfico”
para assegurar a precisão das informações divulgadas durante o governo
Bolsonaro.
O Cimi considera que o trabalho do 3º mandato de Lula está
“muito aquém do prometido”.
O Poder360 procurou o Ministério da Saúde para perguntar se
gostaria de se manifestar a respeito dos números apresentados no relatório. A
pasta respondeu que o governo federal herdou “um cenário de sucateamento,
desmonte e negacionismo” em questões relacionadas ao meio ambiente, à saúde e a
política indigenista.
Afirmou que atual gestão tem atuado, com auxílio e
coordenação do MPI (Ministério dos Povos Indígenas), para “frear os processos
de destruição dos modos de vida dos indígenas brasileiros”.
Em relação especificamente à violência, o governo diz que
acompanha os casos junto ao Demed (Departamento de Mediação e Conciliação de
Conflitos Fundiários Indígenas) por meio de articulação interministerial e
interfederativa.
Fonte: Portal Grande Ponto
Foto: Reprodução/Instagram/urihiyanomami