O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o setor produtivo da economia e o mercado financeiro pela situação de desequilíbrio das contas públicas. Também reclamou do Congresso, que teria de reduzir o valor de emendas ao Orçamento que são propostas por deputados e senadores. Em nenhum momento o petista admitiu que o governo gasta de maneira excessiva, já acumulando um deficit fiscal equivalente ao período da pandemia de coronavírus, mas sem nenhum tipo de crise sanitária como foi a de 2020.
As declarações de Lula foram dadas em uma entrevista à Rede TV!, para o programa “PODK Liberados”, cuja integra vai ao ar no domingo (10.nov.2024). A atracão é comandada pelos senadores Jorge Kajuru (PSB-GO) e Leila Barros (PDT-DF). Alguns trechos já foram publicados. A Rede TV! é uma emissora que foi muito próxima do governo de Jair Bolsonaro (PL) e que mudou sua linha editorial a partir de 2023, passando a ter uma atitude amistosa em relação à administração federal petista. No trecho divulgado, a entrevista foi amigável e sem nenhuma pergunta incômoda para o presidente.
Antes, o petista já havia sido entrevistado nesse seu 3º mandato pela Rede TV! num programa do jornalista Kennedy Alencar, que nos anos 1990 foi assessor de imprensa do petista. Alencar agora está de saída da emissora para ser diretor da mineradora Vale, justamente por ser amigo de Lula e tentar melhorar as relações da empresa com o Palácio do Planalto.
A entrevista ao programa “PODK Liberados” vai ao ar na íntegra no domingo (10.nov.2024), às 22h30. Os trechos da atração liberados na 4ª feira (6.nov) foram publicados antecipadamente pelo portal UOL (onde também trabalhava Kennedy Alencar).
Nas suas respostas sobre como fazer o ajuste fiscal necessário para equilibrar as contas públicas, o presidente reclamou do Poder Legislativo, embora tenha sido ajudado por deputados e senadores mesmo antes de ter tomado posse, em dezembro de 2022, quando o Congresso aprovou a PEC fura-teto e deu R$ 170 bilhões de verbas a mais administração petista em 2023.
“Nós não podemos mais jogar, toda vez que você tem que cortar alguma coisa, em cima do ombro das pessoas mais necessitadas. Se eu fizer o corte de gastos para diminuir a capacidade de investimentos do Orçamento, o Congresso vai aceitar as emendas de deputados e senadores para contribuir com o ajuste fiscal que eu vou fazer?”, indagou Lula.
O presidente não falou nem foi indagado (no trecho publicado da entrevista) que o Brasil tem um orçamento anual para as áreas sociais de aproximadamente R$ 397 bilhões por ano. Esse “welfare state” brasileiro foi mapeado pelo Poder360 detalhadamente. Há sinais de ineficiência no uso dessas verbas. Nunca foi feito um estudo nos governos de Bolsonaro e de Lula para comprovar por que seria necessário aumentar o valor médio dos pagamentos do Bolsa Família de cerca de R$ 200 para perto de R$ 600 por mês. Quando assumiu o Planalto, Lula não só manteve os R$ 600, como aumentou esse valor para a redondeza de R$ 700 para os mais de 20 milhões que recebem o benefício.
Sempre evitando falar o que o próprio governo poderia fazer para cortar suas despesas, o presidente partiu para cima dos empresários brasileiros na entrevista à Rede TV!. “Os empresários que vivem de subsídios do governo vão aceitar abrir mão de um pouco de subsídios para a gente poder equilibrar a economia brasileira?”, indagou numa pergunta retórica –ignorando que muitos dos subsídios concedidos foram durante os seus 2 primeiros governos (de 2003 a 2010) e sob a administração de sua sucessora, Dilma Rousseff (de 2011 a 2016).
Na entrevista, houve críticas também a um alvo predileto de Lula, o mercado financeiro: “Eu estou num processo de discussão muito, muito sério com o governo porque conheço bem o discurso do mercado, conheço a gana especulativa do mercado. E, às vezes, acho que o mercado age com certa hipocrisia, com uma contribuição muito grande da imprensa brasileira para tentar criar confusão na cabeça da sociedade”.
Fonte: Poder 360
Foto: Reprodução/RedeTV!