Em entrevista ao Jornal O Globo, o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso afirmou que o poder de persuasão de um presidente é
fundamental para a aprovação de medidas no Congresso.
Por isso, segundo ele, o
governo Jair Bolsonaro precisa entender que negociar com deputados e senadores
não deve ser confundido com falcatruas.
Veja alguns trechos:
“Vi queda de muitos presidentes. Queria falar com o governo
que do jeito que as coisas vão, (o país) está à deriva. Será que ele escutou?
Não sei. O Brasil vai precisar fazer alguma reforma e o governo precisa
entender que negociar com o Congresso não é fazer o mensalão. Ou tem um projeto
e chama aqueles que vão decidir para participar ou fica sozinho. Não pode olhar
a representação parlamentar, fechar o nariz e dizer: essa gente não tem nível”.
“Na democracia ou na ditadura você reparte o poder ou não
tem como governar. Se você não tem competência para repartir o poder, você
compra o poder. Isso não dá. Mas (Bolsonaro) não pode confundir dividir poder
com comprá-lo”.
“Ao rejeitar essa gente (Congresso) ele (Bolsonaro) está
rejeitando o Brasil”.
“A reforma da Previdência agora vai dar liberdade para o
governo governar. Nesse momento o governo está sob absoluta pressão e restrição
orçamentária. Mas essa história de ajuste fiscal é para economista. Não é coisa
de povo. É um assunto que mexe mais com as estruturas corporativas e daí é
importante o poder de persuasão do presidente”.
“Há recuos e não fica claro qual é o caminho que deseja o
governo. Há um setor empenhado em ajustar as contas. Há outro empenhado em
cultivar o passado onírico guiado por um guru americano (Steven Bannon). E
ainda tem os militares, ao meu ver, mais sensatos. O único reparo que faço
nessa participação dos militares é que estão ocupando muitas posições. Isso é
ruim para eles mesmos. Se o governo for mal vão jogar a responsabilidade neles.
Se for bem, vai ser do Bolsonaro. Em 1964 os militares tinham um projeto para o
Brasil e havia a guerra fria, a ameaça do comunismo. Os militares não têm hoje
projeto para o Brasil. Eles não querem restabelecer a ditadura”.