Um grupo de 30 ex-presidentes latino-americanos e
ex-premiês espanhóis cobrou nesta segunda-feira, dia 5, que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva reafirme seu compromisso com a democracia e reaja
ao que chamam de evidente usurpação da soberania popular, por parte do ditador
da Venezuela, Nicolás Maduro. Assinam a nota os
ex-presidentes da Argentina Mauricio Macri, da Colômbia, Alvaro Uribe e Iván
Duque, da Bolívia, Carlos Mesa, e do México, Vicente Fox, entre outros.
“Exortamos a Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da
República Federativa do Brasil, a reafirmar seu inquestionável compromisso com
a democracia e a liberdade, as mesmas de que gozam seu povo, e a fazê-la
prevalecer também na Venezuela”, pediram os ex-presidentes.
Eles divulgaram uma mensagem endereçada a Lula, em nome do
grupo Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (Idea), que reúne
lideranças de direita e centro-direita, sobretudo ex-governantes espanhóis e
latino-americanos.
“A evidente usurpação da soberania popular que Nicolás
Maduro Moros realizou, em conluio com os poderes do Estado que estão a seu
serviço e sob seu controle, é feita com desprezo pela verdade eleitoral para se
perpetuar no exercício do poder e afirmá-lo por meio de uma política de Estado
repressiva e de violação generalizada e sistemática dos direitos humanos dos
venezuelanos”, disseram os membros do grupo.
Pressão diplomática
Os integrantes do grupo, subscritores da nota, governaram
países como México, Costa Rica, Colômbia, Argentina, Uruguai, Paraguai,
Equador, Bolívia, Panamá, Chile, República Dominicana, El Salvador e Espanha.
“O que está acontecendo é um escândalo. Todos os governos
americanos e europeus sabem disso. Admitir tal precedente ferirá mortalmente os
esforços que continuam a ser feitos com tanto sacrifício nas Américas para
defender a tríade da democracia, do Estado e dos direitos humanos”, afirmaram.
A carta foi divulgada depois de os governos dos Estados
Unidos e de países como Argentina, Uruguai, Peru, Equador, Panamá, Guatemala e
Costa Rica reconheceram uma derrota de Maduro para a oposição.
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O Brasil rejeitou seguir Washington e lidera uma iniciativa
com Colômbia e México que aposta no diálogo com o regime até que provas
documentais da votação sejam tornadas públicas. Os três governos de esquerda
evitaram, até agora, reconhecer um desfecho para a eleição e pedem verificação
dos votos.
Na carta ao petista, eles reconhecem que o candidato da
oposição, Edmundo González, conseguiu demonstrar por meio de atas de votação
que foi “eleito presidente”, algo que o governo Lula rechaça fazer, sem que os
resultados completos sejam divulgados de forma transparente e auditados de
maneira imparcial.
Os líderes políticos afirmam ue se colocam como
“porta-vozes dos sentimentos da maioria decisiva dos venezuelanos”. “Não
exigimos nada diferente do que o próprio presidente Lula da Silva preserva em
seu País”, apelam.
O Estadão pediu manifestação a respeito da carta
ao Itamaraty e à Presidência da República. O texto será atualizado se houver
comentário por parte do governo.
Nesta segunda-feira, Lula disse no Chile que “o respeito
pela tolerância e o respeito pela soberania popular é que nos move a defender a
transparência dos resultados” e que o “compromisso com a paz é que nos leva a
conclamar as partes ao diálogo e promover o entendimento entre governo e
oposição”.
Antes, o petista havia dito que nada de grave ou anormal
acontecera na disputa, e sugeriu que a oposição deveria contestar o anúncio da
reeleição de Maduro na Justiça – controlada pelo chavismo, assim como o órgão
eleitoral venezuelano.
Leia abaixo a íntegra da mensagem divulgada
pelos ex-chefes de Estado e direcionada a Lula
Os ex-chefes de Estado e de governo que
subscrevem esta mensagem, membros da Iniciativa Democrática da Espanha e das
Américas (Idea), exortamos a Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
Federativa do Brasil, a reafirmar seu inquestionável compromisso com a
democracia e a liberdade, as mesmas de que gozam seu povo, e a fazê-la
prevalecer também na Venezuela. A evidente usurpação da soberania popular que
Nicolás Maduro Moros realizou, em conluio com os poderes do Estado que estão a
seu serviço e sob seu controle, é feita com desprezo pela verdade eleitoral
para se perpetuar no exercício do poder e afirmá-lo por meio de uma política de
Estado repressiva e de violação generalizada e sistemática dos direitos humanos
dos venezuelanos. O que está acontecendo é um escândalo. Todos os governos
americanos e europeus sabem disso. Admitir tal precedente ferirá mortalmente os
esforços que continuam a ser feitos com tanto sacrifício nas Américas para
defender a tríade da democracia, do Estado e dos direitos humanos. Não exigimos
nada diferente do que o próprio presidente Lula da Silva preserva em seu País.
Esta mensagem que estamos enviando, em essência, nos coloca como porta-vozes
dos sentimentos da maioria decisiva dos venezuelanos que hoje veem seus
compatriotas, que lutaram ao seu lado, sofrendo prisões, torturas,
desaparecimentos e até mesmo a perda da vida. Eles estão protestando em defesa
de seu voto, estão resistindo pacificamente, guiados por María Corina Machado e
por quem, como demonstram os relatórios eleitorais que são de conhecimento
público e foram coletados pelas testemunhas na seção eleitoral, foi eleito
presidente, Edmundo González Urrutia. A Venezuela tem o direito de fazer uma
transição para a democracia.
Assinam:
Mario Abdo, Paraguai
Óscar Arias S., Costa Rica
José María Aznar, Espanha
Nicolás Ardito Barletta, Panamá
Felipe Calderón, México
Rafael Ángel Calderón, Costa Rica
Laura Chinchilla, Costa Rica
Alfredo Cristiani, El Salvador
Iván Duque M., Colômbia
José María Figueres, Costa Rica
Vicente Fox, México
Federico Franco, Paraguai
Eduardo Frei Ruiz-Tagle, Chile
Osvaldo Hurtado, Equador
Luis Alberto Lacalle H., Uruguai
Guillermo Lasso, Equador
Mauricio Macri, Argentina
Jamil Mahuad, Equador
Hipólito Mejía, República Dominicana
Carlos Mesa G., Bolívia
Lenin Moreno, Equador
Mireya Moscoso, Panamá
Andrés Pastrana, Colômbia
Ernesto Pérez Balladares, Panamá
Jorge Tuto Quiroga, Bolívia
Mariano Rajoy, Espanha
Miguel Ángel Rodríguez, Costa Rica
Luis Guillermo Solís R., Costa Rica
Álvaro Uribe V., Colômbia
Juan Carlos Wasmosy, Paraguai
Fonte: Estadão
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil