Há anos morando em Natal, o italiano Giuseppe Bruno, de 52
anos, era visto como um empresário acima de qualquer suspeita. Proprietário de
empresas de construção civil, serviços financeiros e de um restaurante, ele
possuía cidadania brasileira e até número de CPF. Casado com uma potiguar e pai
de um filho, sua vida mudou drasticamente na última terça-feira (13), quando
foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Arancia, uma ação organizada
pelo Ministério Público e pela Guardia di Finanza de Palermo, na Itália, que há
dois anos investiga a atuação da máfia italiana em lavagem de dinheiro no
Brasil.
Apesar de ter fixado residência no Rio Grande do Norte em
2016, Giuseppe Bruno já frequentava Natal bem antes disso. Em 2009, ele abriu
sua primeira empresa, voltada para serviços imobiliários. Em 2020, Bruno
inaugurou um restaurante especializado em comida italiana no bairro de Ponta
Negra, na Zona Sul da capital, em sua última movimentação empresarial na
cidade.
Natural de Bagheria, uma cidade com cerca de 50 mil
habitantes na Sicília (Sul da Itália), Giuseppe vivia discretamente em Ponta
Negra até ser preso. As investigações indicam que ele utilizava empresas
fantasmas e laranjas para lavar dinheiro da Cosa Nostra, um dos principais
grupos criminosos italianos. O Ministério Público Federal descobriu que essas
movimentações ocultavam fundos ilícitos provenientes de atividades criminosas
internacionais.
Nas redes sociais, Giuseppe demonstrava fluência em
português, com várias postagens sobre viagens, negócios e de devoção ao Papa
João Paulo II. Chamam atenção os registros de viagens feitas por ele, ao longo
dos anos, para a Suíça, Singapura e Hong Kong, países investigados pela Justiça
Italiana como possíveis pontos de lavagem de dinheiro da máfia.
O ítalo-potiguar é suspeito de integrar uma organização
criminosa comandada por Giuseppe Calvaruso, chefe do clã Pagliarelli da Cosa
Nostra. Calvaruso, que também morou em Natal, foi preso em 2021 durante uma
viagem até a cidade taliana Palermo para comemorar a Páscoa.
De acordo com a polícia italiana, em 2019, o chefe do clã
Pagliarelli desembarcou na capital potiguar para Natal para supostamente
acompanhar de perto o desenvolvimento das iniciativas empreendedoras no Brasil,
enquanto continuava a gerenciar as atividades criminosas em Palermo.
O esquema organizado pelos italianos, segundo a Polícia
Federal, movimentou R$ 300 milhões (cerca de 55 milhões de euros) no Brasil. Os
recursos eram utilizados para adquirir propriedades e investir nos mercados
imobiliário e financeiro. No entanto, as autoridades italianas estimam que o
valor total dos ativos investidos pode superar 500 milhões de euros.
No Brasil, segundo dados da Receita Federal, Giuseppe Bruno
tem cinco empresas registradas em seu nome, além de acumular uma dívida de R$
221 mil em impostos não pagos.
Segundo a Justiça Federal, o estrangeiro preso passou por
audiência de custódia na última quarta-feira (14) e segue preso
preventivamente. A reportagem tentou ouvir a defesa do italiano, mas não houve
retorno até o fechamento da reportagem.
Fonte: Grande Ponto com informações do Novo
Notícias
Foto: Reprodução